Segundo artigo da série de três, dos Leigos Missionários da Consolata, sobre profetismo.
de Ana Margarete Silva
No Bíblia identificamos profetas que lutaram pelo direito e pela justiça social, à luz do projeto libertador do Deus da Aliança. O espírito da profecia é uma vida testemunhal de discípulos e missionários que nasce do encontro transformador com Jesus, profeta do Reino de Deus, que dá um novo sentido à vida e propõe novas relações com as pessoas, a realidade e o mundo. Jesus aproximou-se do povo, teve compaixão, solidariedade e foi defensor dos pobres, dos oprimidos e humilhados, denunciando os sistema de morte, por isso foi rejeitado (Lc 4, 21-30) e seu fim foi a morte.
Em tantos movimentos proféticos percebe-se um aspecto solitário, pois nem todos querem se comprometer com o profeta e nem assumir os desdobramentos da profecia. Muitos que se comprometeram com a causa do Evangelho tiveram o mesmo destino de Jesus, foram perseguidos e executados, a exemplo de Irmã Dorothy Stang, que lutou pelo direito dos camponeses e defendeu a Floresta Amazônica. Em Roraima, foram perseguidos, agredidos, ameaçados: Fausto Mandulão, pioneiro na luta pelo acesso à educação indígena; Dionito José de Souza, que lutou por saúde indígena digna e eficiente; Jacir de Souza Macuxi, que destaca-se na luta pela garantia das terras indígena; Ivone Salucci, LMC RR, no exercício do seu ministério profético, efetuou denúncias que culminaram com uma operação da Polícia Federal e desarticulou uma rede de exploração sexual de crianças e adolescentes.
Vozes que não se calam
Tentam calar as vozes que desafiam, que denunciam as mentiras, os crimes ambientais, os assassinatos, a corrupção, que se posicionam em favor dos povos indígenas e defendem o direito à terra. Porém, a profecia resistirá e renascerá, “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão” (Lc 19, 40), Deus é com seus profetas de todos os tempos (Jr 1, 17ss). Dizia Moisés, “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito” (Nm 11, 29).
Ora, o povo, pelo batismo, é profeta! Jesus soprou sobre nós seu Espírito, profecias suscitam e são cumpridas no meio do povo. Eis que a profecia é coletiva. Agora, não só grito de solidão e desamparo ecoam, mas vozes de comunidades, pastorais, grupos, movimentos se unem em defesa da vida integral, digna e sustentável para todos, semeiam o esperançar. E nós, LMC, enquanto profetas da consolação, estamos no meio do povo, apontando para a sinodalidade e para, nos passos do Bem-aventurado José Allamano, “fazer todo o bem possível, o melhor que for possível e sem barulho”.
