Vencer ou perder, aprendendo a jogar

A não aceitação dos resultados das eleições presidenciais, desencadeou um movimento que vem tomando dimensões dramáticas e um distúrbio comportamental coletivo.

Por Fátima Bazeggio

No ano 500 a.C. um pensador chinês, de nome Sun Tzu, escreveu um livro chamado “a arte da guerra”,
obra destinada a ser um manual de estratégias, para liderar e vencer uma batalha.

Curioso que este antigo manual chinês, ainda hoje é usado por pessoas, que se propõem a passar
técnicas e orientar outros que desejam ser bem sucedidos, na profissão, nos negócios, nos
empreendimentos e até nos relacionamentos amorosos e interpessoais. As relações interpessoais
terminam sendo tratadas como estratégia para gerar vencedores em todos aspectos, como se a
felicidade dependesse unicamente de vitórias e uma derrota fosse sinal de fraqueza e impotência.

eleicoes2O desejo de vencer está transformando tudo em táticas de guerra e em vista disso surge cada vez
mais especialistas em comportamentos pessoais e coletivos, com todos tipos de propostas e técnicas
psicológicas, de persuasão, marketing para vender “verdades”, perfis nas redes sociais para
mostrar imagens de vencedores e de felicidade plena, para ganhar seguidores, ganhar a simpatia de
alguém, ganhar uma promoção, ganhar uma medalha, ganhar as eleições.

O que vemos acontecer no Brasil, pela não aceitação dos resultados do processo democrático das
eleições presidenciais, resultado esse, que nenhuma instância ousou contestar, desencadeou um
movimento, que vem tomando dimensões dramáticas e vem se transformando em um distúrbio
comportamental coletivo, digno de uma análise psicológica para entender e explicar.

Quem se julga imbatível nunca aceitará uma derrota e desenvolverá todo tipo de argumento, que
mesmo sem nenhum fundamento, razoável ou crível, vai conseguir obscurecer as mentes, o que
resulta em atitudes de hostilidade, chegando até ao uso da violência.

Quando pessoas criam guerras ou competições, unicamente para atingir o propósito de se tornar
vencedores e passar uma imagem de poder, geralmente sob essa aparência se revela um padrão de
vulnerabilidade de quem não se conhece e nem confia em si mesmo.

Os fatores que estimulam o crescimento desordenado do ego, se não forem bem trabalhados, facilmente
chegam ao ponto da pessoa se achar acima do bem e do mal e acabar acreditando em sua própria
infalibilidade.

Olhando a paixão dos brasileiros pelo futebol e aproveitando a Copa do Mundo que acontece no
Catar, sabemos que o objetivo da competição no esporte é que dali saia o nome de um vencedor.

Para vencer não basta só o talento e aptidão de um jogador, mas o esforço, empenho e treino árduo
de toda uma equipe. Aprendemos a superar nossos limites e ir além, nunca sozinhos, mas com a
colaboração de todos.

Devemos respeitar o adversário, e aceitar que a vida não é feita só de vitórias, e que há muito a
aprender com a derrota. Tanto as vitórias como as derrotas são passageiras e a dignidade está em
reconhecer com humildade, tanto uma quanto a outra.

Muitas pessoas passaram para a história não só pela coragem, mas também pelo empenho em nunca
desistir de buscar a excelência pela ética e acima de tudo pela verdade.

Fátima Bazeggio é Leiga Missionária da Consolata, comunidade São Paulo.