Leiga Missionária relata trabalho com os Guarani Kaiowá em Dourados, MS.
Por Fátima Bazeggio *
Viver e conviver com culturas diferentes pode ser desafiador e apaixonante ao mesmo tempo, pois na medida em que se estreitam as relações, percebemos no outro, traços próprios que ainda permanecem de sua cultura ancestral. Os Guarani Kaiowá que vivem na reserva Jaguapiru, em Dourados, Mato Grosso do Sul, já foram expostos ao modo de viver dos brancos devido a proximidade com a cidade, o que faz com que abandonem seus traços culturais na busca de outro meio de sobreviver. Além da perda da própria identidade existem problemas com a demarcação de terra, conflito com fazendeiros e a escassez de recursos naturais.
Durante a minha permanência com as irmãs missionárias da Consolata pelo terceiro ano consecutivo tive a oportunidade, através do contato direto com as famílias, tanto aquelas que são atendidas no Centro Tonine, como as que são visitadas, de identificar o elevado grau de precariedade e miséria em que vivem, assim como as urgentes medidas necessárias no que se refere ao saneamento básico, segurança, educação e saúde. A violência motivada pelo consumo de álcool e drogas resulta sempre em assassinatos, suicídios, estupros e conflitos étnicos.
O trabalho com a população exige muito tempo, paciência e perseverança, pois é necessário ter sempre em mente que frente a cada pessoa ou cultura devemos tirar as sandálias dos pés, visto que pisamos num solo sagrado.
No dia em que uma criança me parou e perguntou: “por que você voltou?” senti que ali era o lugar para renovar o compromisso de ser presença entre eles, de valorizar as suas conquistas e de ajudar a superar desafios. Você pode estar se perguntando: e o Evangelho? Inseridos em uma realidade tão plural como histórica, diríamos que o Evangelho visto como graça de Deus não tem identidade cultural, mas gratuidade, e é a nossa presença e atitude que vão deixar a mensagem de amor e fidelidade de um Deus que ama sem reservas.