A realização do sonho da missão ad gentes além-fronteiras

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Rodrigo e Jennifer com migrantes venezuelanos em Boa Vista (RR). Fotos: Arquivo pessoal

“Um dia sonhei e hoje posso dizer que meu sonho está se tornado realidade”. Jennifer K. Palomeque, jovem leiga missionária da Consolata da Colômbia, fala sobre a missão entre os migrantes venezuelanos no Brasil. Ela se encontra em Boa Vista (RR) juntamente com o colega da Pastoral Afro de Cali, Rodrigo Daza Jiménez.

Por Jennifer K. Palomeque *

Um Sonho

Em 2017, quando conheci os Missionários da Consolata no Congresso sobre Consolação e Missão na cidade de Bogotá, a primeira coisa que me chamou a atenção desta comunidade foi a missão ad gentes além-fronteiras e ver pessoas de outras partes do mundo, que eu nunca pensei encontrar.

Foi também, muito agradável saber que alguns dos que estiveram naquele encontro já tinham viajado para inúmeros lugares, sendo caminhantes de Jesus, levando o seu nome a lugares maravilhosos. Estas foram algumas das coisas que me atraíram para esta bela Família Missionária. Começou em mim este sonho de ir além da minha realidade para levar Jesus a muitos lugares e partilhá-lo com pessoas diferentes e de formas diferentes.

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Por que o Brasil e não outro lugar de missão?

Tudo começou com um pedido para fazer missão ad gentes, quando os superiores passavam por Cali, durante a Visita Canônica em setembro de 2021. Confrontado com o desejo de ir para além-fronteiras, o Padre Jaime C. Patias lançou a proposta de partir em missão no Brasil e de fazer parte da Equipa Itinerante dos Missionários da Consolata em Boa Vista (RR) que trabalha na acolhida com migrantes venezuelanos. Falou-nos um pouco do trabalho que estavam realizando e do grande apoio que podíamos oferecer com as nossas profissões, a nossa juventude e o desejo de levar esse espírito missionário a muitas pessoas.

Após alguns meses, o processo para fazer parte da Equipa foi concluído, mas tal como aconteceu nos últimos dois anos, a pandemia de Covid-19 começou a dar surpresas inesperadas. Quando tudo estava quase pronto para partir, em janeiro de 2022, uma onda muito forte de casos chegou à Colômbia e ao Brasil. As infecções e mortes aumentaram significativamente, o que nos impossibilitou de viajar na data prevista.

Todos os dias verificava os números para ver como esta nova variante que nos atacava naquele momento. Observava os dados, na esperança de que os contágios diminuíssem. Todo o mês de janeiro e o início de fevereiro passaram e os números foram cada vez menos encorajadores. Em meados de fevereiro a luz voltou a aparecer, a esperança de viajar tornou-se cada vez mais real, os números tinham diminuído um pouco e começamos a organizar tudo para que eu pudesse ir para o meu lugar de missão.

Mulheres migrantes indígenas warao confeccionam artesanatos para vender em Boa Vista.

Mulheres migrantes indígenas warao confeccionam artesanatos para vender em Boa Vista.

A partida

O grande dia de deixar a minha casa, a minha terra, o meu lugar seguro chegou. Era hora de ir viver uma nova aventura missionária acompanhada por pessoas incríveis, mas acima de tudo na companhia de Jesus. Lembrei-me daquele versículo do Evangelho que diz: “E Jesus disse: ‘sigam-me e eu farei de vós pescadores de homens’. Imediatamente deixaram as suas redes e seguiram-no” (Mt 4, 19-20).

Penso que foi isso que fiz, deixei as minhas redes e comecei a segui-lo nesta nova aventura. Confesso que o pânico me invadiu por um momento e um amigo muito próximo disse-me: “não te preocupes, aquele que te enviou irá acompanhar-te na tua missão” e essas palavras encheram-me de força e encorajamento nesta viagem.

Cada vez sinto mais e mais real aquilo que me tem sido dito tantas vezes na animação: a alegria de colocar a nossa vocação ao serviço da missão, a serviço do outro. Confesso que não é fácil, muitas vezes eu gostaria de fazer muito, mas somos presos pela situação, pela realidade, pelas necessidades emergentes do povo. Não é possível fazer muito e ainda menos em tão pouco tempo. Isso, em qualquer caso, não deixa de ser uma razão para continuar a trabalhar e dar tudo tal como Jesus de Nazaré fez. Se há uma coisa que aprendi com a missão e o carisma que temos, é que a consolação é também a presença e muitas vezes o trabalho aqui também se torna isso: ser e estar presente.

Migrante indígena warao prepara refeições.

Migrante indígena warao prepara refeições.

Na missão

Hoje tenho a grande sorte de poder dizer que fui capaz de ir para além das minhas fronteiras, para um lugar que não estava nos meus planos antes. Encontro-me no Brasil, na cidade de Boa Vista – Roraima, trabalhando com os migrantes venezuelanos, um trabalho não convencional, que está cheio de incertezas. Cada dia chegam mais, com realidades diferentes, mas todos com o mesmo desejo, de avançar e procurar um futuro melhor para si e para os seus filhos, para as suas famílias. Estou também perante uma cultura, língua e realidade muito diferentes, mas sempre a dar o melhor de mim para contribuir com um grão de areia nesta realidade e para continuar a trabalhar na construção do Reino.

Esta aventura está apenas começando, há muito trabalho pela frente, muitas coisas que gostaria de fazer, muitos planos para desenvolver, mas por agora estamos a caminhar com Jesus e esperando que tudo corra de acordo com os Seus planos.

NB. Trabalham atualmente na Equipe Itinerante a serviço dos migrantes venezuelanos em Boa Vista o padres Isaack Mdendile, Rodrigo Daza Jiménez e Jennifer Palomeque.

* Jennifer Katherine Palomeque Filigrana, Missionária Leiga da Consolata colombiana, no Brasil.