Consolai, consolai o meu Povo...

O excluído está, econômica e socialmente, um (ou mais) degraus abaixo da pobreza.

Por Edil Tadeu Pereira França *
Foto: Arquivo LMC
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Comunidade São Lucas, Morro do Quiabo, Itapevi, SP.


A consolação de Deus não é apenas um tapinha nas costas, como costumamos dar nos amigos que sofrem. Não é igual à consolação dos homens, com palavras de estímulo, recheada de persuasão exterior, pois ela passa primeiro ao mostrarmos às comunidades carentes o sentido da cidadania, uma vez que a ascensão da burguesia estabelece uma carta onde nos diz como deve ser viver em “sociedade” ou num estado de direito, há sempre uma esfera privada, que diz respeito ao particular; pois a condição do pobre sempre será a de marginalização. A pobreza levanta uma série de questões sociológicas capazes de nos inquietar, quando na verdade devemos ser os consoladores. Em nossa verdade de hoje, temos os excluídos nas pessoas que já não tem mais nada para ser explorado. Se viver ou se morrer, tanto faz; pois assim foi na sociedade monárquica de Israel, como ocorre no sistema neoliberal de idolatria de mercado de hoje. O excluído está, econômica e socialmente, um (ou mais) degraus abaixo da pobreza. Há pobres porque há quem os explore e empobreça; há pobres porque a lei de Deus não é tão respeitada. Há ricos cada vez mais ricos em função de pobres cada vez mais pobres.

Sabemos que entre os consoláveis a fome e pobreza são duas tragédias entrelaçadas, oriundas de uma mesma vertente: onde o -egoísmo das pessoas e a indiferença da sociedade trazem consigo um mesmo falar, desde o estuário da miséria à insuportável indigência, e desde a revolta ao desespero; pois para consolar estes Pobres de Javé em nossos dias, é necessário uma mudança plena em nossos projetos. Pobreza, aflição, opressão e fome são situações às quais Jesus se refere para anunciar uma mudança radical. Não adianta nos sentirmos fartos, enquanto muitos de nossos irmãos disputam com animais os restos das xepas em nossas feiras, ou em containeres de supermercados, e não nos contentemos achando que os estamos consolando, fazendo com eles uma teologia da prosperidade, trabalhando uma faxina em nossos armários, repartindo o que sobra em nossas despensas. Precisamos sim é lutar para que não se prolifere esta polarização em ricos e pobres; entre os letrados e quem não se reserva o direito a uma educação com dignidade, para que a consolação atinja níveis mais humanos e derivados dos pedidos do Senhor, “consolai, consolai meu povo”. ν

* Edil Tadeu Pereira França é Leigo Missionário da Consolata (LMC) e atua na Comunidade São Lucas, no Morro do Quiabo, em Itapevi, SP.
(CC BY 3.0 BR)