Leigos missionários brasileiros em Moçambique

Em Moçambique, grupo de dez missionários brasileiros de Campinas, São Paulo, conhece a realidade de crianças, jovens, adultos e idosos e volta com a sensação de 'quero mais'.

Por Antonio Rodrigues Alves*

leigos_missionarios_mocambique_antonio_rodrigues_alvesAmélia é uma dona de casa como milhões de outras espalhadas por Moçambique. É evangélica, mas seus filhos são católicos. Uma família cristã, portanto, como a maioria dos 24 milhões de habitantes do país.

A dona de casa acolheu o nosso grupo de brasileiros com alegria, uma característica marcante e arrebatadora do povo moçambicano, país localizado no sudeste do continente africano, e que sofre com o descaso do poder público em relação a questões tão essenciais como saúde e educação.

Recebido por essa tradicional família, o grupo de brasileiros experimenta a xima, comida típica do país. Por lá, prevalece ainda a agricultura de subsistência. Na maior parte dos locais visitados por nós, em especial os centros de acolhimento, planta-se o que será consumido. A base alimentar da população é de muito carboidrato, coco e amendoim. Os legumes são grandes e viçosos, graças ao clima, à terra e às sementes vindas da Europa.

Durante a missão experimentamos, ouvimos e vimos muitas histórias de vida inspiradoras, muita luta, muitas conquistas, mas também muito sofrimento. Pareceu-nos difícil pensar que um povo tão sofrido, tão carente, possa viver uma filosofia tão bonita como a que dá nome à nossa Missão: UBUNTU – “Eu sou porque nós somos”.

Conhecer Moçambique foi uma experiência única, marcante e necessária. Obrigou-nos a repensar a forma como encaramos a vida.

Missão em dez dias

Essa experiência missionária nasceu a partir do desejo de um grupo de brasileiros em conhecer a realidade do continente africano. Moçambique foi escolhido por conta da língua oficial do país ser o Português.

Os primeiros contatos foram feitos com os missionários da Consolata, por meio do padre Ramón Cazallas Serrano que nos aproximou do padre Álvaro Pacheco, responsável pelo Centro de Espiritualidade Missionária em Maputo, capital do país.

Formado por dez pessoas - Alice e Osvaldo Santos, Ana Argolo, Andrea Pontes, Eneida e Lúcio, Danielle Lourenço, Talita Pavan, Tânia Alves e eu, padre Antonio Rodrigues Alves, diretor espiritual do grupo –, realizamos reuniões e encontros no Brasil para nos prepararmos melhor para os dez dias de missão, contando com a colaboração sempre pronta do padre Paulo Mzé, moçambicano.

O roteiro foi organizado pelo padre Álvaro e pela irmã Hélia Sange, Apóstola do Sagrado Coração de Jesus, de forma que pudéssemos conhecer vários projetos e as realidades de Maputo.

Um desses projetos foi o Centro Hakumana que significa “Cuida bem dele”. Apesar de enfrentarem dificuldades estruturais e financeiras, realizam um trabalho fenomenal acolhendo as pessoas que sofreram abusos e mulheres que contraíram o vírus HIV e precisam de orientação e apoio psicológico, jurídico, espiritual e clínico. São atendidas cerca de 200 famílias.

Outras experiências foram na Casa das Irmãs Hospitaleiras, que cuidam de doentes mentais, e na Casa da Alegria, lugar de acolhimento de crianças e adultos com o vírus HIV. Ali, as irmãs missionárias da caridade cuidam de todos com muito carinho e amor, seguindo o carisma da sua fundadora, Santa Madre Teresa de Calcutá.

Duas escolas

A fim de conhecer projetos voltados à educação, o grupo visitou as escolas Força do Povo e Imaculada. Na primeira visita, fomos acolhidos calorosamente por alguns alunos. A escola Força do Povo é composta por cerca de 3.600 jovens, que nos brindaram com uma apresentação artística de danças tradicionais da cultura africana.

Ficamos chocados ao descobrir que a escola contava com apenas dois computadores para atender a esses milhares de jovens. Graças à colaboração de pessoas do Brasil, que não participaram da missão, mas quiseram estar presente de algum modo, foi possível a doação de mais um computador para essa escola.

Já a escola Imaculada atende cerca de 1.380 crianças, de 1ª à 7ª classe. Conhecemos a realidade e a rotina dessas crianças, contadas por elas mesmas, que se emocionaram e nos comoveram ao relatar sua vida. Encerramos a visita com atividades recreativas e presenteamos a escola com um kit fantoche, confeccionado pelo Grupo Primavera, que fez questão de doar dez kits. Tivemos ainda a grata surpresa de ver esses momentos registrados em muitas e belas fotos tiradas por um aluno da escola e amante de fotografia.

Também vistamos a Casa dos Gaiatos, que acolhe crianças e jovens abandonados que viviam nas ruas. Nesse local, o mais velho é responsável pelo mais novo e todos realizam as tarefas com muita propriedade e zelo. Esses meninos nos ensinaram: “Somos uma família e temos uma mama, a leiga brasileira, Quitéria”. Mama Quitéria vive há 14 anos em Maputo cuidando desta obra.

Por fim, visitamos a instituição Dom Orione, que cuida de 40 crianças com necessidades especiais. Partimos do Brasil no dia 11 de agosto de 2017 e regressamos no dia 27, pois aproveitamos a oportunidade para conhecer melhor um pouco do continente africano, visitando também outros países.

Nosso local de referência foi o Centro de Espiritualidade Missionária da Consolata. De lá, partíamos diariamente para as visitas programadas e nas noites e finais de semana participamos da vida das comunidades eclesiais.

Os dez dias de missão na capital Maputo, em Moçambique, deixou um gostinho de “quero mais”. Foi nítido este sentimento em todos os missionários de nosso grupo.

*Antonio Rodrigues Alves é sacerdote e foi diretor espiritual do grupo de leigos que viajou a Moçambique.